O número de operações de tireoide aumenta de forma alarmante no Brasil e no mundo

O número de operações de tireoide aumenta de forma alarmante no Brasil e no mundo. Nos grandes centros urbanos do Brasil é muito comum que em conversas familiares, ou em reuniões sociais, alguém comenta: “Você sabia que fulana foi operada da tireoide?” Isto se tornou quase que uma informação que, há 20 anos atrás, era relativamente rara. O fato não se restringe ao Brasil, mas publicações recentes dos Estados Unidos, da União Européia, do Japão e outros países asiáticos mostram que o número de operações de tireoide triplicaram nesses últimos 15 anos, sem relação com o aumento populacional.Porque se opera tanto esta pequena glândula que está no pescoço? As explicações são variáveis de país para país, mas seguramente um fato é aceito por todos endocrinologistas. Com a introdução de aparelhos de ultrassom portáteis e de custo relativamente baixo possibilitou ao médico ter uma visão da glândula tireoide e dos outros elementos anatômicos cervicais (traquéia, veias jugulares, artérias carótidas, músculos). A ultrassonografia da tireoide é altamente observador dependente, isto é, quanto mais o médico que realiza o exame tiver grande experiência, mais fidedigno se torna o relatório. Obviamente, os nódulos na glândula tireoide são o principal objeto de que o clínico indaga ao médico que faz o ultrassom, uma vez que um percentual relativamente pequeno destes nódulos pode ser maligno. Com a maior divulgação da ultrassonografia da tireoide, médicos de diversas especialidades incluíram esse exame na rotina dos exames subsidiários que habitualmente solicita após uma consulta. A descoberta de um nódulo na tireoide, o qual o(a) paciente e o médico não tinham qualquer suspeita, sempre causa um certo grau de alarme: “Será que é maligno?” O ultrassonografista com grande experiência logo informa que nódulos com menos de 8mm de diâmetro não devem causar nenhum alarde ao paciente, podendo ser avaliado anualmente. Nódulos maiores do que 1 cm devem ter uma descrição detalhada do seu conteúdo, se existem calcificações, se apresenta formato irregular e outras características que experiência indica que se deve prosseguir em investigações mais minuciosas. Nesse caso, muitas vezes, também é indicada a punção do nódulo para obter células que são examinadas no microscópio. No caso das células serem normais, existe a possibilidade de um tratamento clínico. No caso de haver anormalidades evidentes, a possibilidade de cirurgia deve ser considerada. O que acontece, contudo, na prática médica é que o relatório do ultrassonografista apresenta 3 hipótese de diagnóstico. Um deles, usualmente, leva o nome de carcinoma. Isto sugere ao médico solicitante que se faça a operação de tireoide para examinar o nódulo retirado cirurgicamente pelo patologista. É bom que se diga que esse tipo de carcinoma chamado folicular é muito raro e, portanto, 90% das cirurgias apenas confirmam que não existe câncer de tireoide, mas a pessoa terá que viver sem a tireoide pelo resto de sua vida. O que foi explicado acima é um dos motivos pelos quais tantas tireoidectomias são realizadas. Por outro lado, outro fato que leva o paciente à cirurgia é a punção de diminutos nódulos de menos de 8 mm, na qual aparece o diagnóstico de câncer papilífero. Na maioria dos países ocidentais e no Japão, a conduta seria apenas de observação com exames periódicos. No entanto, em nosso meio, é impossível dizer ao paciente ou à paciente que o diagnóstico é câncer papilífero, mas a conduta é apenas de expectativa. Obviamente, em busca de uma segunda ou terceira opinião, o dilema finaliza por uma operação da tireoide. Resta comentar que ultrassonografistas com menos experiência podem indicar um nódulo cístico ou com fragmentos sólidos como importante para se fazer uma punção biópsia. O que realmente é totalmente desnecessário, pois nódulos císticos são 99% das vezes benignos. Quando o(a) paciente apresenta vários nódulos, a tendência atual é realizar uma punção biópsia em 1 ou 2 nódulos dominantes, isto é, que sejam os maiores de cada região, esquerda ou direita, da tireoide. A possibilidade de câncer em bócio multinodular(como indicado acima) é ao redor de 3%, ou seja, muito inferior para a eventual indicação de uma cirurgia da tireoide. Com tantas variáveis, verifica-se que somente médicos com alta experiência em ultrassonografia de tireoide devem opinar e expedir relatórios neste exame de imagem. Fica, sempre, nas mãos do endocrinologista a indicação de uma punção no nódulo e a eventual decisão cirúrgica. Muitas vezes, o não-especialista, isto é, o clínico geral, cardiologista, ginecologista, irão optar por uma decisão cirúrgica. No conjunto de tudo que foi dito, os fatores todos apresentados mostram que o crescimento exponencial de cirurgia de tireoide deverá continuar. Faltam a nosso ver, diretrizes mais concretas dos órgãos representativos dos endocrinologistas e dos cirurgiões de cabeça e pescoço.
Source: Indatir